Quero uma vida azul-piscina!

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Gosto de pensar assim: se a gente faz o que manda o coração, lá na frente, tudo se explica.

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Por ele eu vou até o Acre e me finjo de índia.

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Meu mundo

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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Há um período em que os pais ficam órfãos dos próprios filhos




“Há um período em que os pais ficam órfãos dos próprios filhos. É que as crianças crescem como pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença, com estridência alegre, às vezes com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem, de repente. Um dia sentam-se perto de você e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura. Onde é que andou crescendo aquela danadinha, que você não percebia? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? E a pá de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme da escola? Ela agora está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você agora está ali, na porta da discoteca, esperado que não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais ao volante, esperando que os filhos saiam esfuziantes. Entre hambúrgeres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, nossas crianças, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas nos ombros ou a suéter amarrada na cintura. Está quente, dizemos que vão estragar a suéter, porém não tem jeito: é o emblema da geração. Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos. Não mais colheremos as crianças nas portas das discotecas e festas. Saíram do banco de trás e passaram para o volante das próprias vidas. Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir suas almas respirando conversas e confidências. Não, não as levamos suficientes vezes ao cinema, não lhes demos hambúrgeres e refrigerantes o bastante, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas. Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo nosso afeto. No princípio, subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e outras crianças. Sim, havia as brigas dentro do carro, disputa pela janela, pedidos de sorvete e sanduíche, cantoria infantil. Depois chegou a idade em que para ir à casa de campo com os pais começou a ser esforço, sofrimento, pois era impossível largar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. O jeito é esperar. A qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos, e que não pode morrer conosco. Por essa razão, avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam”.

D/A

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