domingo, 26 de junho de 2011
Eu te daria girassóis e lírios perfumados
Reflexos de arco-íris e rosa orvalhada
Te daria a chuva e o vento que beija
Flores do campo e avencas cultivadas
Te daria beijos com gosto de fruta
E arrepios na pele em toda madrugada
Um poema novo que falasse de encantos
E palavras de amor na noite estrelada
Eu te daria a lua e o brilho da noite
E meu melhor sorriso de mulher amada
Lou Witt
Vomito esta gota de sangue
como o mundo vomita em mim
sorvo cada gota
em dia que não tem fim.
Levo na boca o gosto do sangue
este que me faz lembrar outrossim
na alma e no corpo sedentos
que cada dia é só mais um fim.
Sufoco-me com o sabor
o cheiro do sangue em mim
mas cuspo cada gota
como se me desfizesse em carmim.
Vejo a gota no chão
tal qual animal olho e cheiro assim
e desejo alucinadamente que esta gota
permaneça um hospedeiro enfim.
lanaribeiro
07-02-10
E não havia um nome
para a tua ausência!
Mas tu vieste!
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?
Tu vieste.
E acordas todas as horas,
preenches todos os minutos,
acendes todas as fogueiras,
escreves todas as palavras.
Um canto de alegria
desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo
e habito em ti
e a noite não existe,
porque as nossas bocas
acendem, na madrugada,
uma aurora de beijos.
Joaquim Pessoa
Quando estás vestida,
ninguém imagina
os mundos que escondes
sob as tuas roupas.
(Assim, quando é dia,
não temos noção
dos astros que luzem
no profundo céu).
Mas a noite é nua,
e, nua na noite,
palpitam teus mundos
e os mundos da noite.
Manuel Bandeira
.
Onde o nítido arco-íris
sumido em estradas neutras,
se tão longe fica o longe?
Era real despertada em cores,
é viva pintada em branco.
O vento em porto remoto
se perde entre o nunca e o sempre.
Vagueio a rotina do ar
na certeza sem contacto:
-quando o encontro cancelado,
bebido na enseada morta? –
Voltará, cortado o sono,
amanhecida na imagem.
Ando o Tempo e, já nas mãos,
afago a rosa ainda autêntica.
COLOMBO DE SOUSA
Quando eu partir
deixarei para ti um sorriso.
O mais apaixonado poema,
a mais linda canção.
Quando eu partir
deixarei minha saudade,
os sonhos adormecidos,
as respostas não alcançadas.
Deixarei para ti meu coração.
Quando eu partir
deixarei para ti minha vida,
minha total serenidade.
Só levarei você
dentro de minha alma
por toda infinita eternidade!
Lúcia Polonio
Escreve-me!
Ainda que seja só
uma palavra, uma palavra apenas,
suave como o teu nome e casta
como um perfume casto daçucenas!
Escreve-me!
Há tanto, há tanto tempo
que te não vejo, amor! Meu coração
morreu já, e no mundo aos pobres mortos
ninguém nega uma frase d'oração!
"Amo-te!"
Cinco letras pequeninas,
folhas leves e tenras de boninas,
um poema d'amor e felicidade!
Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então... brandas... serenas...
cinco pétalas roxas de saudade...
-Florbela Espanca-
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Um Vento Muito Leve Passa
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.
Alberto Caeiro, Heterónimo de Fernando Pessoa
Amizade Pura
quinta-feira, 16 de junho de 2011
No Verão, deitar-me-ei ao lado do amor sobre camas feitas com feixes de espigas,tendo o firmamento por cobertor e a lua e as estrelas por companheiras.
No Outono, irei com o amor aos vinhedos e nos sentaremos no lagar,e contemplaremos as árvores se despindo das suas vestimentas douradas
e os bandos de aves migratórias voando para as costas do mar.
No Inverno, sentar-me-ei com o amor diante da lareira e conversaremos
sobre os acontecimentos dos séculos e os anais das nações e povos.
O amor será meu tutor na juventude, meu apoio na maturidade,e meu consolo na velhice.
O amor permanecerá comigo até o fim da vida, até que a morte chegue,e a mão de Deus nos reúna de novo.
(Gilbran Khalil)
ONDE ESTARÁ O AMOR!
Olho para dentro de mim e me pergunto: Quem sou?
Se não me encontro, como poderei encontrar o outro?
Apenas sei, porque é o testemunho que a vida me dá,
que, em algum lugar ou em todos os lugares,
tenho pedaços de mim mesmo, perdidos.
Tenho necessidade de colher, juntar todos, e montar o
meu mosáico.
E, ai, me pergunto: A quem interessará esse mosáico?
Para que a busca, se o passado é passado e o presente
é o que tenho para fazer dele o melhor presente para mim mesmo,
de tal forma que, quando virar passado, o veja como
meu maior presente!?
Como posso encontrar o outro se eu mesmo não me encontro?
Como juntar uma cara metade se nem a minha metade está comigo?
Amar não é sair de si mesmo, mas é alternar com o outro.
Alter(nar)?
A palavra alternar tem a presença do vocábulo latino “alter” que significa “o outro”?
Então, passo a pensar: preciso de mim mesmo para saber onde estou e onde meu eu está.
Amar é completar-se.
Completar em quem se os que mais amam confundem-se de tal forma que não sabem se um é um e outro é o outro?
Dizem que o amálgama do amor é tão profundo que, sequer, no grande mar da vida, não se conhece o fundo.
Quem ama sofre. Quem ama muito perde, sempre, um pouco mais.
Se não sentem que sofrem, um dia hão de saber, ainda que seja pela perda, senão a do dia a dia,
o bruto peso da perda final.
Mesmo assim eu quero ouvir sua voz.
Como será?
Tenho ouvidos para ouvir?
O amor tem cheiro?
Se tiver, quero olfatear. Será que posso?
Existirá a palavra olfatear?
Enfim...
Deixe-me amar primeiro...
Deixe encontrar em mim o elo perdido de mim mesmo.
Em algum lugar, nos encontraremos...
Você e eu
Ou, eu e você.
Nalgum tempo.
Nalgum lugar.
Isso é tão certo, quanto certo é saber que, em algum lugar e num tempo qualquer, um “talvez” está a nossa espera.
Esperemos, então!
Benê Cantelli
*** Lindo esse seu poema Benê, e peço sua permissão para postá-lo no Blog.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
MEU AMIGUINHO BEM TE VI
Cresceu e, esbanjava, ao cantar, o seu lindo peito amarelo.
Parecia orgulhar-se do pardo manto que lhe cobria o corpo. Lindas asas.
Em todas as manhãs, mal começava o sol a se levantar, ouvia-se o cantar do meu amiguinho BEM TE VI.
Sonoridade vocal, sem igual.
Certo dia, tomando mate, enquanto contemplava o nascer do dia, vi minha linda e pequena ave, apoiada na escadinha da piscina, dar um rasante, molhando sua dourada barriguinha amarela.
Talvez, aquele foi o primeiro banho do meu amiguinho BEM TE VI.
Era, então, uma azulada manhã de verão.
Ouvi seu cantar, por inteiro, pela primeira vez. Maravilhoso! Canoro! Deslumbrante!
E, assim, por muitas e muitas manhãs.
Por vezes, e quantas, ouvia seu cantar, ainda deitado em minha cama.
A janela do meu quarto dá para o fundo, onde estão palmeiras, palmeirinhas, coqueiros e algumas outras plantas.
Numa dessas manhãs, abri a janela do meu quarto e, sem se assustar, como que sabendo que eu estava ali para cumprimentá-lo, aumentou o tom de sua voz, desfilando o seu Bem te viiii.
Adorável amiguinho.
Um belo dia, o senti, sem tê-lo visto, mais entusiasmado.
Por curiosidade, sai para vê-lo.
Não estava sozinho. Trouxe uma companheira.
Era notória sua alegria.
Sacudia as asas. Estufava o peito. Erguia sua cabeça marcada por um risco branco, sendo ela toda preta.
Desmedida alegria! Vibrei com ele. Parabenizei.
Era linda, sua companheira.
Agora eram dois. Não mais ele sozinho.
Ouvia quando a chamava.
Chegando, aumentava sua alegria e corriam de um lado para outro, como duas crianças brincando de pega-pega.
O tempo passou. Vieram dois filhotinhos.
Não tinham mais tempo para brincadeiras.
Ela ficara chocando por um longo tempo.
Ele, cuidando, todo garboso.
Enfim, o meu amiguinho BEM TE VI era papai.
Assim se passaram longos meses.
Raramente, eu via os quatro, juntos.
Numa manhã de outono, gélida e ofuscada por uma parda nuvem que cobria o azul do céu, não vi mais os filhotes.
Ficaram, novamente, os dois sozinhos.
Contudo, a felicidade continuava reinando na vida do meu amiguinho BEM TE VI.
Penso que ele sabia que sua função reprodutora não era a do escravo que escraviza, mas a do paizão que liberta.
Sabia ele, com certeza, que não fez os filhos para si, mas os fez para a vida e, a vida continua, inclusive, na vida deles.
Acostumei-me a levantar e dar um bom dia ao dia.
Viciei-me a dar bom dia ao meu amiguinho BEM TE VI.
O dia nascia diferente para mim, desde que conheci e fui reconhecido por meu amiguinho.
Até que, como diz o provérbio: “nada é tão bom que dure para sempre e nem tão mal que um dia não se acabe”, dei falta do meu amiguinho BEM TE VI.
Onde teria ido?
Depois de alguns dias, ele voltou... Estava sozinho.
Já não cantava como antes.
Tristonho, já nem molhava mais sua linda barriguinha amarela, na água da piscina.
O seu cantar não tinha mais alegria e nem alta sonoridade.
Mais parecia um gemido...
Triste, muito triste estava meu amiguinho.
Pensei... Onde estará sua companheira?!
Não sei, mas nunca mais a vi.
E o triste cantar de meu amiguinho parecia dividir comigo a dor da própria solidão.
Um belo dia, triste com a tristeza de meu amiguinho, e absorto na contemplação do seu indisposto agir, fomos despertos pela chegada de um novo casal de BEM TE VIS.
Não sei de onde vieram. Chegaram namorando. Arrumaram um lugarzinho para ninho. E, nunca mais saíram daqui.
O meu amiguinho, não se incomodou. Deu a impressão de que gostou da companhia.
Talvez, era tudo o que precisava.
Ainda não sei se esta pequena ave é totalmente monogâmica. Sei de algumas que o são e, quando perdem a parceira nunca mais se junta com outra.
Continuo vendo-o sozinho.
Não tem o mesmo cantar.
Mas ali está o meu amiguinho BEM TE VI.
Talvez, não foi embora, porquanto sou eu, ainda, uma boa companhia.
Quisera.
Pudera!!!
Benê Cantelli 14/06/2011