Quero uma vida azul-piscina!

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Gosto de pensar assim: se a gente faz o que manda o coração, lá na frente, tudo se explica.

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Por ele eu vou até o Acre e me finjo de índia.

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Meu mundo

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terça-feira, 14 de junho de 2011

MEU AMIGUINHO BEM TE VI

...fruto de um amor que nasceu no fundo do quintal de minha casa, no mais alto de uma linda palmeira imperial.

Cresceu e, esbanjava, ao cantar, o seu lindo peito amarelo.

Parecia orgulhar-se do pardo manto que lhe cobria o corpo. Lindas asas.

Em todas as manhãs, mal começava o sol a se levantar, ouvia-se o cantar do meu amiguinho BEM TE VI.

Sonoridade vocal, sem igual.

Certo dia, tomando mate, enquanto contemplava o nascer do dia, vi minha linda e pequena ave, apoiada na escadinha da piscina, dar um rasante, molhando sua dourada barriguinha amarela.

Talvez, aquele foi o primeiro banho do meu amiguinho BEM TE VI.

Era, então, uma azulada manhã de verão.

Ouvi seu cantar, por inteiro, pela primeira vez. Maravilhoso! Canoro! Deslumbrante!

E, assim, por muitas e muitas manhãs.

Por vezes, e quantas, ouvia seu cantar, ainda deitado em minha cama.

A janela do meu quarto dá para o fundo, onde estão palmeiras, palmeirinhas, coqueiros e algumas outras plantas.

Numa dessas manhãs, abri a janela do meu quarto e, sem se assustar, como que sabendo que eu estava ali para cumprimentá-lo, aumentou o tom de sua voz, desfilando o seu Bem te viiii.

Adorável amiguinho.

Um belo dia, o senti, sem tê-lo visto, mais entusiasmado.

Por curiosidade, sai para vê-lo.

Não estava sozinho. Trouxe uma companheira.

Era notória sua alegria.

Sacudia as asas. Estufava o peito. Erguia sua cabeça marcada por um risco branco, sendo ela toda preta.

Desmedida alegria! Vibrei com ele. Parabenizei.

Era linda, sua companheira.

Agora eram dois. Não mais ele sozinho.

Ouvia quando a chamava.

Chegando, aumentava sua alegria e corriam de um lado para outro, como duas crianças brincando de pega-pega.

O tempo passou. Vieram dois filhotinhos.

Não tinham mais tempo para brincadeiras.

Ela ficara chocando por um longo tempo.

Ele, cuidando, todo garboso.

Enfim, o meu amiguinho BEM TE VI era papai.

Assim se passaram longos meses.

Raramente, eu via os quatro, juntos.

Numa manhã de outono, gélida e ofuscada por uma parda nuvem que cobria o azul do céu, não vi mais os filhotes.

Ficaram, novamente, os dois sozinhos.

Contudo, a felicidade continuava reinando na vida do meu amiguinho BEM TE VI.

Penso que ele sabia que sua função reprodutora não era a do escravo que escraviza, mas a do paizão que liberta.

Sabia ele, com certeza, que não fez os filhos para si, mas os fez para a vida e, a vida continua, inclusive, na vida deles.

Acostumei-me a levantar e dar um bom dia ao dia.

Viciei-me a dar bom dia ao meu amiguinho BEM TE VI.

O dia nascia diferente para mim, desde que conheci e fui reconhecido por meu amiguinho.

Até que, como diz o provérbio: “nada é tão bom que dure para sempre e nem tão mal que um dia não se acabe”, dei falta do meu amiguinho BEM TE VI.

Onde teria ido?

Depois de alguns dias, ele voltou... Estava sozinho.

Já não cantava como antes.

Tristonho, já nem molhava mais sua linda barriguinha amarela, na água da piscina.

O seu cantar não tinha mais alegria e nem alta sonoridade.

Mais parecia um gemido...

Triste, muito triste estava meu amiguinho.

Pensei... Onde estará sua companheira?!

Não sei, mas nunca mais a vi.

E o triste cantar de meu amiguinho parecia dividir comigo a dor da própria solidão.

Um belo dia, triste com a tristeza de meu amiguinho, e absorto na contemplação do seu indisposto agir, fomos despertos pela chegada de um novo casal de BEM TE VIS.

Não sei de onde vieram. Chegaram namorando. Arrumaram um lugarzinho para ninho. E, nunca mais saíram daqui.

O meu amiguinho, não se incomodou. Deu a impressão de que gostou da companhia.

Talvez, era tudo o que precisava.

Ainda não sei se esta pequena ave é totalmente monogâmica. Sei de algumas que o são e, quando perdem a parceira nunca mais se junta com outra.

Continuo vendo-o sozinho.

Não tem o mesmo cantar.

Mas ali está o meu amiguinho BEM TE VI.

Talvez, não foi embora, porquanto sou eu, ainda, uma boa companhia.

Quisera.

Pudera!!!

Benê Cantelli 14/06/2011

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