O que eu amo em ti
não é esse jeito de cereja
e esse olhar de seis da tarde
não é essa mania de andar bolerodiando
nem mesmo a tua educadez
O que eu amo em ti
não é essa tua boca de vinho
nem o teu piano. Tocas. E nem é isso.
Os livros que leste, nem mesmo
o que sabes ou não sabes
Não é tampouco o teu ambicionismo
ou teu traço de desenho ou o compasso.
Nem teu andando em lenta marcha vagarosa
nem a doçura, a ternura, a candura,
a loucura, a pura frescura tua de alface...
nem mesmo teu cheiro de alface
teu cheiro de ar com um resto de perfume
nem teu carro (com ar condicionado)
nem teu cachorro
não, não é nem isso que eu amo em ti.
O que eu amo em ti
não é a tua preguiça esticada ao sol
emsombreada de impressionismo
não são os silêncios de que és feito
nem o instante que povoas
ou o mistério que às vezes te povoa,
Não é esse ar letárgico, trágico, trístico,
tanguístico, místico com que te sentas na cadeira
ou acendes um cigarro
somente para por um pouco de fumaça
entre ti mesmo e o mundo
Não é tua voz irônica e sábia
que me preenche os brancos da cabeça
nem mesmo tua cabeça ou tua espiritualidade
ou tua força, tua certeza ou tua fragilidade
Acaso tua beleza? Não, nem é isso.
Nem mesmo o que eu amo em ti
é a tua gargalhada
que transpassa meu ouvido
cheia de espuma e sol de agosto
com gosto de aventura
ou o teu beijo
que cada vez me sabe a uma coisa
mas é sempre tão beijável.
Não é teu jogo de tênis (tão branco de propaganda)
recortado no horizonte,
nem teu corpo plástico, elástico, cheio de fluxos
e de percursos de vibração.
Não é bem isso.
Nessa sucessão constante de agoras
o que eu amo em ti
não é o que refletes de improviso
nem é o inesperável
nem o superalgo
O que eu amo em ti
...são as rugas, meu amor, as rugas...
[Bruna Lombardi]
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
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